quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

castanhos avermelhados(segunda parte)

“ Sua mãe e eu começamos a namorar cedo, eu tinha uns 16 anos e ela 15, entramos na faculdade, nos formamos e recebi uma proposta de emprego aqui em Londres , então eu a pedi em casamento. Como eu amava aquela mulher... nossa vida era estável , feliz, perfeita ,mas para Isabel faltava algo , ou melhor, alguém “ Nosso herdeiro” era como ela falava; o problema era que ela era estéril e isso a deprimiu profundamente...”
- Estéril?? Como assim ... e eu?- Arthur se aproximou de mim e segurou minhas mãos, enquanto minha mente se tornava um caos.
- Calma! Você prometeu ouvir até o fim.
- Mas..
- Shhh!! Por favor- Art pediu silêncio enquanto limpava as lágrimas que teimavam em molhar meu rosto e voltou a contar sua história.
“ Então, em uma noite você apareceu em nossa porta dentro de um cesto, enrolada em uma manta de lã que tinha o seu nome bordado, você estava tão indefesa, tão pequena e tão linda! Isabel se apaixonou no instante em que a viu , ela ficou encantada e a felicidade dela também era a minha. Tentei avisá-la de que tínhamos que te levar para as autoridades, mas ela se negou e disse que você era um presente do céu e que fugiria se eu voltasse a tocar no assunto. Alguns dias depois e nós já estávamos providenciando uma certidão pra você .Passou um mês e então apareceu ! Batendo em nossa porta. Claus Volmann...ele disse que queria falar sobre a criança, eu e Isabel de princípio ficamos receosos, mas o deixamos entrar. Claus começou com uma história estranha, disse que ele era um ser diferente, que a pouco tempo se tornara o líder de um clã formado por vampiros, que governavam os imortais da Europa e Ásia, disse que havia se apaixonado por uma mortal chamada Vivian e que desse amor nasceu ... você – Eu o observava incrédula, tudo o que Art falava respondia a todas as minhas perguntas, mas estas eram as ultimas respostas que eu esperaria ouvir – A família dele não aceitava que houvesse a mistura dos sangues e resolveram matar você sem que ele soubesse. Vivian te salvou, mas isso lhe custou a vida.- As imagens dos meus últimos sonhos vieram a minha cabeça como um filme – Quando Claus descobriu ficou louco e decidiu que seria mais seguro que você ficasse com uma família humana e nos escolheu. Explicou que não sabia no que você iria se transformar e perguntou se ficaríamos contigo enquanto fosse seguro. Isabel não hesitou e disse que ficaria com toda certeza. Tenho que admitir que pensei que fosse uma brincadeira de mau gosto, mas não era! Passaram-se três anos, Claus sempre mantinha contato, dizia estar procurando por respostas, tudo estava bem, você era como uma criança normal e então Isabel sofreu o acidente, minha vida perdeu o sentido e só você me manteve vivo só você Mi. Eu não podia perder você também, eu não podia ficar aqui esperando o dia em que o Volmann te arrancaria de mim. Decidi fugir, comecei a mudar de cidade e de repente estávamos indo para outros países e por mais que nos mudássemos Claus sempre nos encontrava.Ele...te ama muito Miranda, tanto quanto eu, ele abriu mão de te ver crescer, te mimar, de ser pai, só para mantê-la segura! Enquanto eu fui egoísta! Me perdoe!!”
-Art...isso...é impossível- falei ainda estática enquanto Art me olhava esperando alguma reação louca- Isso não pode ser verdade- de repente eu comecei a rir.
- Miranda- Art segurou meus ombros me forçando a encará-lo – Tudo o que eu falei e real! Eu não brincaria com isso, você sabe que é verdade, você tem que acreditar por que esse é o seu futuro e seu passado.
- Você quer que eu acredite que eu sou uma vampira e que a minha vida toda é uma farça? Tudo até você e a minha...a Isabel? Arthur- segurei seu rosto entre minhas mãos – você precisa de um psiquiatra- soltei-me de suas mãos e logo me pus de pé, fui em direção a porta, mas Art segurou meu braço antes que eu chegasse lá.
- Miranda, por favor! Por que eu mentiria?por que eu inventaria tudo isso?- coloquei as mãos em meus ouvidos eu não queria escutar aquilo- Como vocês explica os seus olhos vermelho? Você acha que eu não reparei? E... como você explica o copo ter explodida em minhas mãos? Não fui eu que fiz aquilo. – Eu odiei aquilo tudo ter sentido.
- PÁRA!!! POR FAVOR!!- saí do quarto e fui para sala tapando meus ouvidos com mais força, Arthur me seguiu, fez com que eu me sentasse no sofá, ajoelhou-se em minha frente e segurou meu rosto.
- Eu sei que é difícil, que é estranho mas é a verdade...a única verdade...foi difícil para mim também, ainda é, mas nós temos que enfrentar, juntos!- meu rosto estava encharcado de lágrimas eu estava com medo do desconhecido em que eu me transformei da noite para o dia, mas não havia opções, eu tinha que aceitar e assimilar tudo o mais rápido possível. Eu precisava pensar.
- Eu vou sair!!- Levantei-me do sofá e fui em direção a porta.
- Aonde você vai??- perguntou Art ainda ajoelhado e eu respondi, afinal eu não sabia para onde ir, só queria fugir de tudo aquilo.
Fui em direção a escada e antes de descer o primeiro degrau o piano começou a tocar e então eu soube para onde ir. Chequei a porto do apt de marco e parei! O que eu diria pra ele? Que eu era a filha de um vampiro, herdeira de um clã? Eu estava perdida em meus pensamentos quando a porta em minha frente se abriu e o meu anjo apareceu sorrindo.
- Miranda!!- seu olhar se iluminou ao falar meu nome e eu o abracei o mais forte que pude enquanto as lágrimas e soluços me sufocavam. Marco me carregou e deitou-me no sofá de couro preto que ficava perto do piano.
- Não chore !! Por favor.- seus olhos me encaravam com um certo desespero enquanto tentava enxugar minhas lágrima, sem êxito.
- Marco!- sussurrei entre soluços.
- Estou aqui amor!- marco estava preocupado mas eu não conseguia, por mais que eu tentasse, parar de chorar.
- Toque pra mim!- Antes que eu terminasse de falar Marco sentou-se ao piano e começou a tocar. Graças a canção acabei adormecendo e agradecendo aos céus pelo meu tão amado anjo!
***
Acordei com a voz de Marco.
- Mi!... acorde! Seu pai deve estar preocupado com você, abri os olhos lentamente e me deparei com o olhar de Marco, que ótima maneira de se acordar!
- Por favor ! Me diz que tudo isso é um sonho Marco!- ele franziu a testa de porcelana.
- Por que você está falando isso?
- Nada!Esquece. – levantei-me rápido demais o que fez com que eu ficasse tonta, mas Marco me segurou antes da queda.
- Você está bem?- o que eu mais queria era contar tudo a Marco, mas eu tinha medo da sua reação.
- Eu só me levantei rápido demais, meu cérebro e meu corpo não estão muito em sintonia. – Marco encarou meus olhos e por um momento eu pensei que ele pudesse ver a minha alma.
-Eu não me referi a tontura!
- Eu preciso ir, meu... O Arthur deve ta preocupado neh?
- Você vai ficar bem! Eu prometo!- Marco sempre me entendia, mesmo quando não havia como ele entender.
- É...tchau! Obrigada... muito obrigada- ele sorriu e me levou até a porta do meu apt.
- Miranda!- Marco me puxou pela cintura.
- Quê?- eu sempre ficava sem fôlego com a proximidade de Marco.
- Eu estou aqui! Sempre.
- Eu sei!- Marco pôs a mão em minha nuca e guiou meus lábios para os seus. Era incrível como eu ficava imune ao mundo quando eu estava com ele.
Entrei em casa e encontrei Arthur falando ao telefone, ele estava sério e quando percebeu a minha presença sua expressão mudou, ele estava surpreso.
- Que foi Art? – ele tentou disfarçar.
- Só um minuto querida!- Art se despediu da pessoa do outro lado da linha, mas eu ainda não estava pronta para conversar com ele, era muita informação.
- Art! Eu vou pro meu quarto, depois conversamos.
- Tudo bem!- forcei um sorriso e fui para o quarto, chegando lá me joguei na cama e fiquei pensando em cada palavra que ouvira de Art horas atrás. Palavras que eu nunca esperaria ouvir.

sábado, 4 de dezembro de 2010

Castanho avermelhado ( primeira parte)

A Inglaterra desconcertou minha mente, que já não era tão sã. Coisas que eu nunca imaginei que pudessem acontecer estavam logo ali e eu não tinha a menor idéia de como agir diante de tudo isso. A descoberta do meu amado anjo, o novo Arthur, meus olhos cada vez mais vermelhos, enfim, a minha estranha vida inglesa estava me enlouquecendo. Depois de acordar daquele terrível pesadelo, de me olhar no espelho e descobrir que eu estava me transformando em algo desconhecido eu comecei a pensar rápido, tinha que reagir, uma hora eu iria ter que sair do quarto, encarar meu pai, e eu n poderia fazer isso com meus novos olhos. A única saída foi comprar algo que escondesse tudo isso, algo que escondesse a estranha Miranda, então eu coloquei o único óculos de sol que tinha, disse para Art que ia comprar um colírio e fui em busca de lentes de contato. Não foi tão fácil achá-las, mas eu consegui, comprei 2 pares de lentes castanhas e quando cheguei em casa Arthur já estava dormindo.
A notícia boa foi que eu consegui colocar as lentes e elas esconderam muito bem meus olhos vermelhos, mas mesmo assim eles continuavam escuros demais. Bem! Eu não podia reclamar, estava muito melhor e Art já não encarava meus olhos a muito tempo então não fazia muito diferença. O que me deixava realmente preocupada era o que Marco iria dizer, o que iria pensar, por quanto tempo eu conseguiria esconder? Tirei as lentes antes de dormir e tranquei a porta do quarto, enquanto adormecia as estranhas imagens voltaram a me atormentar mas agora eram ainda mais nítidas, mais intensas, os gritos da moça eram reais demais e sempre faziam eu despertar, resumindo: minha noite foi péssima!
Como eu não consegui dormir, resolvi comprar o café da manhã, sem esquecer das lentes é claro! Quando saí de casa me deparei com Marco subindo as escadas, quando me viu, abriu o sorriso largo que fazia meu corpo entrar em colapso, fiquei alguns instantes hipnotizada pelo brilho dos seus olhos até lembrar dos meus castanho avermelhados, desviei meu olhar de súbito.
- Mi? O que foi?- em menos de 1segundo ele estava ao meu lado; rápido demais para um mortal.
- Nada! Por que?- eu sabia que se o encarasse ele iria perceber que meus olhos já não eram os mesmos.
- Você desviou o olhar... Eu fiz algo?- ele estava preocupado.
- Não... Você não fez nada!- Marco levantou meu rosto devagar, com uma de suas mãos de pianista. Seu toque me desnorteava.
-Então olhe para mim!- Não há como evitá-lo, mesmo querendo, é mais forte que eu, então cedi e o encarei, e ele mas uma vez me surpreendeu sorrindo- Você é tão...
- Boba?- Interrompi
- ...Linda! – Neste instante Marco se aproximou e eu pude sentir sua respiração no meu pescoço, quanto mais perto ele chegava mais o mundo ao nosso redor sumia, evaporava e de repente só o meu tão amado anjo existia. Então seus lábio tocaram os meus, senti suas mãos em minha cintura puxando-me para mais perto, eu estava tonta, sem ar, e irrevogavelmente apaixonada. Estes foram os segundo mais intensos, perfeitos e completos de toda minha existência.
- Desculpe! Mas eu não consegui evitar.- Eu só consegui perceber que precisava de ar ao ouvir sua voz perfeita.
- Marco! Se eu não quisesse, não teria acontecido- um sorriso brincou em seus lábios e então nos abraçamos.
- Então...Para onde você estava indo?- perguntou sussurrando em meu ouvido, o que me fez estremecer.
- É... eu ia,.. quer dizer... eu vou comprar o café da manhã
- Vocês só comem fora?
- Ainda não saímos pra fazer compras! Meu pai não ta muito bem. - meu olhar se perdeu, então pegou minhas mãos e beijou-as delicadamente.
- Posso ir com você?- um sorriso bastou para respondê-lo e descemos a escadaria de mãos dadas.
Eu o conhecia a tão pouco tempo e ele já ocupava uma parte tão grande da minha vida, de mim. Os momentos que passávamos juntos foram poucos, mas eram intensos, completos e bastaram para que eu me apaixonasse perdidamente.
Cheguei em casa ao meio dia pensando que iria levar uma bronca, mas Arthur ainda dormia o que era muito estranho, ele sempre acordava cedo! Bati na porta do quarto mas não havia resposta, então entrei no quarto e vi Art deitado na cama ao lado de uma garrafa whisky vazia.
Fiquei parada vendo aquela imagem, sem acreditar que era o meu pai, o Arthur Costa que eu conhecia não era um bêbado, triste, amargo. De repente ele começou a se espreguiçar lentamente e quando reparou em mim levou um susto:
- Miranda? O que você esta fazendo aqui?- Art me olhava envergonhado.
- O que você fez com meu pai?- As lágrimas começaram a embaçar meus olhos.- Responde!! – Eu gritei.
- Miranda, eu to aqui!- ele disse assustado.
- NÃO...! – Não consegui controlar o tom da minha voz. – Você não é o Arthur Costa que eu conheço, que eu respeito!
- Mi..- Ele não tinha como falar nada.
- Você nunca foi assim, o que eu ta acontecendo?... ME DIZ ARTHUR!!! O que houve? – Art me olhava estático.- Eu já perdi minha mãe, não vou agüentar perder meu pai!- As lágrimas caiam do meu rosto ininterruptamente.
- Filha! Sente... Eu vou te contar tudo, desde de o princípio! Mas você tem que prometer que vai ouvi até a última palavra – me aproximei da cama e me sentei devagar, Art se ajeitou na cama e começou

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

" Meu anjo"

- Entrar? – eu não acreditei que ele estivesse me chamando para conhecer sua casa, nós mal nos conhecemos.
- É! Quer entrar? Eu não mordo – ele sorriu de um modo diferente, com sarcasmo.
- Não! É melhor não, meu pai pode acordar e... – ele não me deixou terminar.
- São 3h00 na madrugada, ele não vai acordar. Vai ser rápido, você não quer me ver tocar? – Eu não tinha como negar nada para aqueles olhos castanhos reluzentes.
- Ta certo, mas eu não posso demorar.
- Como quiser senhorita. – ele abriu a porta gentilmente e eu entrei. O apartamento não tinha muitos móveis, era como se ele também estivesse acabado de se mudar! Mas o piano estava lá, imponente, poderoso. Eu nem reparei quando “meu anjo” se afastou de mim e sentou-se para tocar. Quando percebeu que eu o observava, chegou um pouco mais para o lado do banco e me convidou à sentar. Quando cheguei perto dele meu cérebro começou a enviar choques para todo meu corpo, ele estava tão perto.
Suas mãos deslizavam sobre as teclas do piano, será que eu estava no céu? Em algum lugar bem próximo ao paraíso? Eu ficaria ali por toda a eternidade. De repente a música cessou e seus olhos alcançaram os meus, eu conseguia ouvir sua respiração, de perto ele era ainda mais magnífico.
- Eu não sei seu nome. – ele perguntou
- Miranda, mas todos me chamam de Mi! – sentir o perfume que emanava da sua pele era uma sensação viciante.
- Você é nova aqui. De onde você veio?- Ele perguntou.
- Eu vim do Brasil, mas Nasci aqui! E você? Britânico?- Havia tantas perguntas que eu gostaria de fazer, mas parecia até pecado perder o “nosso” tempo com palavras.
- Sim...britânico! Mas já vivi em muitos outros países – seus olhos se desviaram dos meus.
- Falei algo errado?- perguntei preocupada com sua reação.
- Não, mas é melhor você ir. – ele estava me expulsando? – não é que eu queira que você vá, mas já são 5h00 seu pai pode acordar a qualquer momento.- 5h00? Como o tempo voava perto dele.
- É melhor mesmo, desculpa o incomodo. – ele me olhou como se estivesse arrependido de algo.
- Você não incomoda em nada – eu me levantei devagar e fui em direção a porta que ele abriu antes que eu pudesse tocar na maçaneta.
- Então até logo! – eu disse
- Até breve. – e antes que eu fosse em direção a minha porta ele disse.
- Marco, meu nome é Marco – como eu pude esquecer de perguntar o nome dele?
- Boa noite Marco! – ele sorriu mais um vez e então dei mais alguns passos e entrei em casa sem acreditar no que havia acabado de acontecer comigo, eu cheguei tão perto do “meu anjo”, meu coração continuava batendo mais rápido que o normal. Quando me deitei fiquei relembrando cada segundo que eu tinha acabado de viver até adormecer. Foi tão mágico!
Na manhã seguinte eu estava decidida a questionar meu pai, eu exigiria respostas. Quando cheguei na sala ele estava, mais uma vez, sentado em sua poltrona com um copo de café nas mãos :
-Pai!- eu o chamei com um tom de seriedade.
- Sim querida? – ele mirava a janela.
- Ontem a noite eu li a carta que você recebeu! – em menos de um segundo Art levantou-se e me encarou com um semblante de reprovação.
- Você não podia ter feito isso Miranda, é um assunto pessoal! – ele estava muito nervoso.
- Mas Art... Você ficou tão estranho, eu só estava preocupada!
- Não interessa! Você não tinha o direito de invadir minha privacidade assim! – eu nunca o tinha visto tão fora de si. – ele voltou-se para a janela novamente.
- Arthur Costa o que está acontecendo? Quem é Claus? E o que ele quer com você? – ele me encarou e disse aos berros.
- Não te interessa! – A raiva fez minha garganta se fechar, meu cérebro enviava cargas elétricas por todo meu corpo, que sensação estranha! Art virou-se para mim e me olhou com ... medo???? Era isso? Não...! Por que ele teria medo de mim?
Nesse momento o copo que Art segurava se partiu em mil pedaços, foi como uma pequena explosão. Nós dois nos assustamos, sua expressão era estranha, como se ele estivesse me culpando! Era ele quem estava segurando o copo e não eu. Encaramo-nos por alguns segundos quando eu reparei que sua mão sangrava.
- Pai, a sua mão! – fui em sua direção, mas ele se esquivou.
- Não! ...... eu vou ficar bem! – Art me deu as costas e foi em direção ao seu quarto.
As coisas estavam ficando cada vez mais estranhas, e ao invés de respostas eu só conseguia mais perguntas.
Depois do acontecido eu tive que limpar a bagunça, havia cacos de vidro por toda parte e eu não conseguia formular nenhuma explicação para o que eu tinha visto. Como aquele copo tinha se partido em mil pedaços? Art Não era forte o bastante para quebrá-lo somente com uma mão.
Mas a tarde fui chamá-lo para irmos almoçar:
- Art? – a porta estava trancada.
- O que? – uma voz baixa me respondeu.
- Vamos almoçar!
- Eu não quero! Pegue dinheiro em minha carteira, em cima da mesa, para você comer alguma coisa. - Meu pai não era assim, mau humorado, distante, sério e triste! Pelo contrário ele sempre fazia brincadeirinhas, mesmo que fossem de mal gosto, mas Art sempre tinha um sorriso no rosto, o sorriso que fazia com que eu me sentisse segura.
- Maldita carta! – Eu sussurrei enquanto pegava o dinheiro e então o piano voltou a tocar, era como se ele adivinhasse quando eu precisava me acalmar. Então me veio uma idéia que talvez salvasse minha tarde.
Levantei para tocar a campainha, quando mais uma vez, ele adivinhou meus pensamentos a abriu a porta antes que eu pudesse avisar que eu estava lá.
- Como é que você... Deixa pra lá! – Como ele era lindo!
- Oi... Miranda! – a sua voz era ainda mais encantadora do que eu me lembrava.
- É... Oi! – ele tem o dom de me deixar boba.
- A que devo a honra?
- Eu só queria saber se você já almoçou? – ele não tirava aquele sorriso perfeito do rosto.
- Já sim! – É... meu dia estava totalmente acabado. – Por que?
- É que eu ia te chamar pra almoçar comigo no restaurante aqui do lado mas...- Ele adorava me interromper! Mas eu adorava!
- Tudo bem! Vamos! Deixa eu só pegar meu casaco.- ele pegou um casaco preto que estava em cima do piano.
- Mas você não tinha almoçado?
- Sim, mas... eu posso te acompanhar ? – eu fiquei sem graça e podia sentir o sangue indo direto para o meu rosto.
-Claro!
- Então... Vamos? – descemos as escadas devagar e toda vez que ele me olhava eu ficava sem jeito, quando chegamos ao restaurante eu pedi um macarrão com molho branco que tinha um nome meio esquisito e que eu não conseguia pronunciar, mas Marco me ajudou.
- Então Miranda!... O que te trás a Inglaterra?
- O trabalho do mau pai !
- Ele trabalha em quê?- a curiosidade saltava de seus olhos perfeitos.
- Vice presidente de uma empresa de eletrônica.
- Ahh... – eu estava me acabando no espaguete e ele não parava de olhar para mim.- você gosta de espaguete ein!
- Está ótimo!É uma pena que você já tenha almoçado!- que vergonhaaa.
Depois que terminei de almoçar ficamos conversando um bom tempo, eu não cansava de escutar sua voz.
- Você mora sozinho a quanto tempo?- seu sorriso se desfez de súbito.
- Desde que meus pais morreram. – como eu sou idiota! Consigo estragar tudo sempre?
- Foi mal! Eu não sabia... desculpa! – marco forçou um sorriso.
- Tudo bem! Você não podia imaginar.
- Eu sempre estrago tudo. – sussurrei para mim mesma, enquanto encarava o chão.
- Não!
- O que?- era impossível que ele tivesse escutado meu sussurro. !
- Você não estragou nada. – Ele levantou meu rosto delicadamente, segurando meu queixo – Você faz eu me sentir melhor do que eu realmente sou. – seu toque fez meu corpo estremecer, minha respiração, meu coração, tudo estava fora de controle. Seus olhos me hipnotizaram e eu ficaria ali, parada, para todo o sempre, se ele estivesse comigo. Será que isso é o que chamam de amor?
- Vocês vão pedir a conta? – o garçom conseguiu acabar com o melhor momento da minha vida!
- Sim, por favor. – Marco respondeu.
- Agente já vai? – perguntei.
- Você quer pedir mais alguma coisa?
- Não, tudo bem. – É claro que eu queria, queria o seu toque, seu olhar, seu sorriso.
- Aqui está senhor! – o garçom “ estraga prazeres” chegou com a conta e entregou a Marco.
- Ei! A conta é pra mim, eu que vou pagar. – falei estendendo minha mão para pegar o papel. Mas Marco como sempre, me surpreendeu.
- Não, por favor Miranda, um cavalheiro deve pagar a conta.- eu sei que ele é perfeito e talz, mas ele não tinha pedido nada, e fui eu quem o convidei.
- Mas Marco, eu te convidei e você nem pediu nada. – o garçom estava meio confuso e quando pensei ter ganho a pequena discussão tentei pegar o pequeno papel que estava em sua mão Marco, em um piscar de olhos. Pegou a conta, tirou um cartão prateado do bolso do casaco e entregou ao garçom que ficou assustado com a rapidez do meu “cavalheiro”.
- Aqui está!- meu braço ainda estava estendido no ar e meu queixo estava caído.
- Você é tão surpreendente que me irrita!
- Desculpe! Não foi minha intenção Mi. – Eu não sabia que algum dia a educação de alguém pudesse me irritasse.
- Da próxima vez eu pago! Entendeu?
- Sim senhorita. - ele disse com um sorriso largo no rosto.
Saímos do restaurante e fomos pra casa, ao chegar na porta do meu apt ele segurou minha mão esquerda, levantou-a e deu um beijo demorado.
- Já estou sentindo sua falta pequena Miranda. – Marco conseguia me transportar para um mundo melhor que qualquer livro ou realidade.
- Eu também já sinto sua falta.- neste instante a porta atrás de mim abriu e Art saiu dela gritando.
-Miranda Costa, Onde você estava mocinha? Que demora foi esta?
- A culpa foi minha senhor. – Disse Marco
- Não foi não!! – eu disse protestante.- O Marco n tem nada a ver com minha demora pai...- antes que eu terminasse Arthur me pegou pelo braço e me puxou em direção a porta.
- Com licença rapaz – Pelo menos meu pai n havia se tornado um mal educado.
- Pai você está me machucando, já estamos em casa! Dá pra me soltar?
- Nunca mais me dê um susto desses! Ouviu ?? – Art esbravejou, me encarando com muita raiva e foi se trancar em seu quarto mais uma vez. Os dias dele se resumiam ao quarto e a sua poltrona.
Fui para meu quarto aos prantos. Enquanto adormecia com as lágrimas ainda embaçando meus olhos algumas imagens estranhas começaram a tomar minha mente, imagens nítidas demais para serem um simples sonho, eram como lembranças de momentos que eu nunca tivera vivido A primeira cena era a de um homem, que pelas roupas aparentava ser rico, com cabelos negros que contrastavam com seu rosto de porcelana perfeito, ao seu lado havia uma mulher de vestes mais simples, cujos cabelos castanhos terminavam em cachos na altura da cintura, não consegui ver o rosto da moça, o que mais me chamou atenção foi o amor que emanava de ambos, estavam tão felizes, realizados pela simples presença do outro. A segunda cena era o oposto, a mulher estava correndo desesperadamente com uma criança no colo e de repente entrava em uma casa sombria, colocava o bebê dentro de algo que parecia ser um baú então a imagem ficou turva e eu só consegui ouvir os gritos da mulher, eram aterrorizantes e fizeram eu despertar, quando abri meus olhos notei que estava soando, sem ar, e chorava aos soluços sem parar. De repente Arthur Apareceu na porta do quanto .
-Miranda?- art estava com um semblante de terror - O que houve??
- Foi só...- Eu estava sem fôlego- ...um sonho.
- Sonho? Você estava gritando!
-Eu?? Você ta brincando!
- Não! – Realmente, Art estava sério demais para brincadeiras.
- Tudo bem, eu estou bem. – o quarto estava escuro, não dava para ele enxergar muito bem meu rosto de medo, eu agradeci por isso.
- Estou na sala. – Arthur disse
- Art!! – ele se virou rapidamente
- Que foi?- ele ainda estava aterrorizado.
- Calma pai, eu só quero saber que horas são.
- Ahh.. São 16h00! Mais alguma coisa?
- Não obrigada!
Me levantei e fui para o meu banheiro ver o meu estado. Quando olhei para o espelho eu fiquei em choque, em meus olhos o castanho claro deu lugar a um castanho avermelhado escuro, eu não conseguia me mover, a única reação que tive foi a de fechar os olhos, com força, por uns instantes na esperança de ser mais um pesadelo, mas infelizmente não era!

sábado, 27 de novembro de 2010

Em algum lugar da Inglaterra

Eu não recordava do quão fria era a Europa, meu pai me avisar, mas eu tinha que dar uma de rebelde não trazer um casaco descente. Chegamos em pleno outono inglês, e pelo que eu ouvi estávamos em Londres, a cidade que tirou minha mãe de mim.
--Chegamos!! – Meu pai falou em alto e bom som, eu acho que as vezes ele pensa que eu sou surda.
Saímos do carro e eu me deparei com vários prédios iguais, colados uns nos outros, tingidos de cinza. Arthur estava radiante e mesmo com toda tristeza que sentia tentei dar um sorriso, sem muito resultado.
-- E ai?- perguntou Art
-- E aí o que?- perguntei de volta, desanimada e cansada.
-- O prédio – disse ele gesticulando para o edifício.
-- A ta! É...legal! – eu realmente n estava nem um pouco animada.
-- Legal? – ele n gostou muito da resposta
-- É pai, muuuito, perfeito! Melhorou?- falei em um tom de ironia.
--Assim está melhor. Vamos subir?
-- Não, eu to adorando virar picolé aqui fora – meu pai é inteligente, mas de vez em quando faz cada pergunta, pensei revirando os olhos.
E quando eu pensei que não podia piorar meu pai se superou. Conseguiu achar um apartamento no quarto andar, sem elevador. Cheguei lá em cima completamente sem ar e ele ainda teve a cara de pau de olhar para mim e dizer que eu estava fora de forma, contei até dez para não dizer umas poucas e boas, mas tenho que admitir que adorei o apartamento, principalmente a minha tão sonhada suíte com uma vista linda. Art já havia mandado alguns móveis e me prometeu uma cama nova logo, e é claro que eu já tinha cobrado, então resolvemos comprá-la depois do almoço.
Quando estávamos descendo as escadas para procurarmos um restaurante eu me deparei com o homem mais perfeito que meus olhos já tinham visto. Ele era mais alto que eu uns 20cm, tinha os olhos de um castanho diferente de todos que eu já vira, seus cabelos cor de mel eram perfeitamente lisos e iam até a altura do pescoço, sua pele era como porcelana, seu rosto tinha ângulos perfeitos, como um anjo! Ele deve ter me encarado por, no máximo, uns 5 segundos e foi o bastante para que eu perdesse o fôlego. Meu coração batia mais forte que a colisão de locomotivas, por um momento eu pensei que ele pudesse escutá-lo, senti o sangue correr pelas veias do meu rosto com mais intensidade e só depois de alguns instantes eu notei que Arthur estava uns 7 degraus a minha frente e me olhava com preocupação.
-Miranda?- demorei um pouco para responder.
-Eu?
- Tudo bem?- não, não estava nada bem.
- É......, sim, tudo bem!- comecei a descer a escadaria devagar.
No caminho até o restaurante meu pai não parou de tagarelar, mas pra falar a verdade não ouvi nenhuma palavra. Eu estava tentando entender o que havia sentido, algo tão forte em tão pouco tempo, meu corpo ainda estava em choque, ele era perfeito demais para ser real, e se fosse o que ele estava fazendo no meu prédio? Que boba! Ele nunca olharia para mim.
Depois que terminamos de almoçar, eu e Art fomos ver minha cama como o combinado, ela era linda, tinha um dossel, a cabeceira se assemelhava aos ramos de uma videira e chegaria daqui a 3dias. Quando chegamos em casa eu fui para o meu quarto descansar e enquanto me acomodava um piano começou a tocar, o que me ajudou bastante a adormecer e eu acabei sonhando com o “meu anjo”, meu coração batia mais forte quando eu pensava nele, mesmo sem conhecê-lo, eu deveria ser só mais uma das muitas garotas que sonham com ele, e se eu não voltasse a vê-lo? - este pensamento fez meu corpo gelar – O que 5 segundos fizeram comigo?
- Mi! Acoorda! Já é de manhã!
- Que horas são pai?
- 8h00.
- Jah??- comecei a levantar devagar
- É! Levante e vá se arrumar para irmos tomar café!- nesta hora a campainha tocou e ele foi atender. Até sem colégio meu pai tinha que me acordar cedo, que saco!
Antes de tomar banho escolhi a roupa mais quente que eu encontrei, e depois de pronta eu fui para sala.
- Pai! Tô pronta, vamos? – ele estava sentado em sua poltrona lendo algo que parecia uma carta, ele tava estranho, seu semblante era de pavor, eu nunca o tinha visto assim, não movia um músculo.
- Pai? – ele não respondeu – Art? Você está bem? – ele despertou.
- Sim querida! – Arthur dobrou a tal carta, pôs no bolso e se levantou devagar como se estivesse tonto.
- Tudo bem?
- Claro filha! Por que não estaria? – a quem ele estava tentando enganar?
- Vamos Mi?- Meu pai foi em direção a porta com a mão no bolso em que a carta estava. Eu o acompanhei. Ele estava desnorteado.
- Pai, quem mandou a carta?
- Que carta?
- A que está no seu bolso – o que estava acontecendo? Ele demorou demais para responder.
- Foi a ... ! Empresa !! Isso mesmo. Foi a empresa.
Art fez o que pode para mudar de assunto, mas as vezes seu olhar se perdia. Tomamos café no mesmo restaurante em que almoçamos no dia anterior, quanto terminamos ele disse que tinha que resolver algumas coisas e que não sabia que horas voltava. Mesmo preocupada eu o obedeci e fui pra casa sozinha. Quando cheguei no apartamento a música do piano havia começado novamente, sempre gostei de música clássica, me acalmava. Então peguei meu livro e quando sentei na poltrona de meu pai, para a leitura, vi um envelope:
- Que estranho, não tem remetente? – falei comigo mesma. A única coisa que tinha era o nome de Arthur Costa – meu pai - escrito com uma letra muito bem feita. A imagem da expressão de tortura de Art ao ler o tal bilhete ou carta atravessou minha mente, este não parecia com os envelopes que meu pai costumava receber da empresa. Havia alguma coisa errada.
Não consegui me concentrar no livro, nem o piano conseguiu me acalmar. Eu precisava saber o que estava se passando, do que se tratava a carta sem remetente? Minhas perguntas só poderiam ser respondidas de uma maneira e eu precisava tentar.
Logo a noite Art chegou e eu fingi que dormia .Esperei meu pai cair no sono e então revirei todos os bolsos do seu casaco marrom e acabei achando o que procurava, neste momento meu coração começou a pular, tive o máximo de cuidado para n fazer nenhum barulho e quando cheguei ao meu quarto tranquei a porta – com muita dificuldade por que minhas mãos não paravam de tremer- e sentei-me para ler o fruto do meu “roubo”- a que ponto eu cheguei- então respirei fundo e abri a carta:

Precisamos conversar Arthur.
Não fuja mais disso, setembro se aproxima e você não poderá evitar o futuro.
Estarei no restaurante da esquina às 9h00.
Aguardo-te ansiosamente!

Claus Volmann .

Quem era Claus e o que ele queria com meu pai? O que eles não podiam adiar? O que setembro tem de tão especial? O que meu pai está escondendo de mim? Perguntas e mais perguntas sem respostas.
Que saudades da Luh! Ela sempre estava comigo nos bons e maus momentos e agora eu estava somente com as minhas dúvidas.
Depois de devolver o bilhete fui para a sala e o piano voltou a tocar, quem tocava tão bem?
Eu adoraria saber quem é, talvez amanhã eu pudesse descobrir, mas... pensando melhor, por que não agora? Eu não tinha nada a perder e não estava nem um pouco a fim de dormir . Peguei um casaco e o som me guiou até a porta do meu vizinho desconhecido. Levantei a mão para bater na porta, mas antes que eu pudesse me mexer o piano se calou e a porta a minha frente se abriu. Eu fiquei extasiada ao ver quem era. O “meu anjo” era meu vizinho?
Ele sorriu ao me ver de boca aberta observando-o de cima a baixo. Como ele conseguia ficar ainda mais perfeito ao sorrir? Mais uma vez eu esqueci de respirar.
- Posso ajudar?- sua voz era linda, doce, calma, eu já deveria esperar. Eu precisava encher meus pulmões para respondê-lo.
- Eu... – o que eu ia falar? – É... Eu só queria saber quem tava tocando
- Incomodei-te? – ele franziu a testa de porcelana.
- Não, não. Eu adoro! ... muito - será que eu tinha respondido rápido demais?
- Que bom! – Meu Deus que olhar mais perfeito, essa é a única palavra que poderia definí-lo PERFEIÇÃO. – Quer entrar?

domingo, 14 de novembro de 2010

A Mudança

Eu sou uma pessoa comum, com uma vida comum, amigos comuns, namorado comum. Pra falar a verdade eu nunca gostei de ser normal, os desafios, o inusitado, as diferenças sempre me fascinaram, mas a Miranda “ pés no chão “ nunca deixou que eu desbravasse o mundo mais irreal, as ilusões. È somente nos livros que eu me sinto completa, no lugar certo. Eu sei que sonhos não são reais, mas fingir que são é algo bom demais para abrir mão. Eu nasci em 15 de setembro de 1992 em Londres, meu pai trabalha como vice diretor de uma empresa de eletrônicos e sempre temos que nos mudar, o bom é que graças a essas mudanças eu aprendi a falar inglês, espanhol e português muito bem, o ruim é que tenho que reconstruir minha vida sempre, minha mãe morreu quando eu tinha 3 anos, não tenho irmãos nem parentes, as vezes eu acho que meu pai não pára em um lugar por muito tempo pra não se apegar as pessoas e correr o risco de perde-las como perdeu a minha mãe, ele nunca mais foi o mesmo depois disso, mesmo tentando esconder eu sei que ele sente muita falta dela, tanto quanto eu e sempre evita tocar no assunto, eu o entendo. Ontem ele, mais uma vez, veio com uma conversa sobre mudança, mas dessa vez não era um lugar novo :
- Mi! Você já pensou em voltar para Europa?– seus olhos estavam com um misto de curiosidade e preocupação.
- Por que a pergunta Art?
- Nós já estamos aqui á algum tempo e meu chefe vive perguntando se eu gostaria de ir para Inglaterra.
- Inglaterra??? Você sempre evitou falar do tempo em que morávamos lá e agora quer se mudar? – minha voz começou a se exaltar.- Por que você não falou comigo antes Arthur?
- Calma! Eu ainda não decidi nada filha!
Ele sempre vem com esse papo de “ eu ainda n decidi” e na semana seguinte o caminhão da mudança já está na porta.
Será que ele não pensa em tudo o que eu vou perder? Estamos no meio do ano letivo e os meus amigos? A Luh e o Rob precisavam de mim. E também tem o Ricardo, agente só namora a duas semanas. Arthur é tão egoísta!
Como sempre meu pai tomou a decisão sozinho e daqui a 3 dias nós vamos nos mudar.
As despedidas já começaram, Luh e Rob passam todos os instantes comigo, o Rick preferiu se afastar, talvez seja melhor assim, meu pai mais uma vez estragou minha vida.
Hoje Luh vem dormir aqui e daqui a pouco ela chega, eu sempre gostei de como ela faz eu me sentir especial, singular, em pouco tempo nós nos tornamos uma mistura de amiga e irmã e agora eu vou ter que deixá-la .
Meus pensamentos foram interrompidos por 3 batidas na porta, fui atender e me deparei com a Luh carregando uma mochila enorme, com um colchão enrolado em baixo do braço esquerdo e segurando uma pizza com a outra mão.
-- Luh ! Você vai se mudar com agente é ??
-- Engraçadinha!- Ela fez uma cara de desprezo pra mim e entrou porta a dentro.
- Onde eu boto minha bolsa ?
-- Sua mala né amiga, dá você dentro dela.- ela me lançou o mesmo olhar de desprezo.
- Tudo bem ! Vamos subir , quer ajuda ?
-- Pensei que não fosse perguntar nunca!
Subimos a escada rindo. Quando chegamos no meu futuro ex quarto ela ficou parada olhando as caixas com as minhas coisas e o mural de fotos que eu ainda não tive coragem de tirar:
--Eu odeio seu pai!!-Eu sabia que se continuasse essa conversa a noite estaria acabada.
-- Você ainda pode me seqüestrar!!
-- Não tem graça Miranda!- os olhos dela não segurariam as lágrimas por muito tempo.
-- A pizza é do que mesmo?
-- Calabresa eu acho!
-- Acha?- Luh estava viajando e o meu coração estava ficando cada vez mais apertado ao vê-la assim.
Mesmo que nós não quiséssemos a noite não seria tão animada como já fora, foi impossível não chorar, nem a pizza estava tão boa como das outras vezes. Por que meu pai fazia isso comigo??
Eu acordei com a voz de Art:
-- Mi! Acorda filha!
-- Ah pai! Deixa eu dormir mais um pouquinho!
-- Tenho uma notícia não muito boa pra você. –eu me levantei em um salto.
-- Mais uma?- questionei sem acreditar.Meu pai suspirou e disse calmamente.
-- A viagem foi antecipada!- O ar parecia estar mais denso, minha respiração começou a se alterar e meus olhos começaram a produzir lágrimas.
-- Pra quando?- eu sentei devagar na cama, o quarto começou a rodar.
-- Agente viaja hoje a noite. - Essas palavras foram como um punhal atravessando meu coração e as lágrimas e soluços não deixavam eu respirar.
- Você está bem?
--BEM???-minha voz começou a se exaltar, o que fez Luh acordar - Você acha mesmo que eu poderia estar bem depois de você ter destruído a minha vida? – Luh me olhava com preocupação, sem entender nada.
-- Mi ! Desculpe se você acha que eu estou destruindo sua vida, mas é para o seu bem!
-- Para o meu bem? Você é tão egoísta – neste momento ele me deu as costas e foi em direção a porta, antes de fechá-la virou-se e disse:
-- Arrume sua coisas, saímos as 19:00
Eu não acreditava que isso estivesse acontecendo!
--O que aconteceu amiga?
-- Meu pai... – estas foram as únicas duas palavras que eu consegui pronunciar antes de desabar no choro abraçada com a Luh.
-- Amiga! Por favor me explica o que está havendo, você sabe que pode contar comigo pra tudo - a preocupação dela só fazia eu chorar mais, eu tinha que falar.
--Luh! Meu pai antecipou a viagem.
--Para quando?- ela disse com os olhos arregalados.
-- Hoje às 19:00 - Nós duas nos encaramos e começamos a chorar desesperadamente.Depois de alguns minutos ela tomou ar e começou a falar.
--Mi! Por favor pare de chorar, por que senão eu também não vou conseguir parar, se você quiser eu te ajudo a arrumar o resto das coisas - eu comecei a respirar pausadamente e as lagrimas foram cedendo aos poucos.
-- Tudo bem! Mais é melhor agente descer e comer alguma coisa!
Nós até tentamos mas n conseguimos comer nada e resolvemos subir, quando chegamos na porta do quarto ficamos paradas sem coragem de falar, mas alguém tinha que tomar atitude.
-- Luh ! Você sabe que eu nunca vou te esquecer amiga e que nossa amizade é maior que qualquer distância, você tem que me prometer que não vai me esquecer e que vai tomar conta do Rob, você é a pessoa em que eu mais confio no mundo e... – ela não deixou eu continuar:
-- Por Favor Miranda não fale nada, você sabe que eu odeio chorar e ainda temos tempo – ela era como eu, demonstrar sentimentos era muito complicado.
--Tudo bem, então... mãos a obra!
Começamos a nos mexer lentamente, eu comecei pelos meus tão amados livros de realidade fantástica, sempre adorei histórias de vampiros, lobisomens, bruxas e outras ilusões que eu adoraria viver, Luh começou pelo mural de fotos que nós montamos, na verdade era só um parte da minha parede que nós duas enfeitamos, em cima tinha a nossa frase preferida “Vcs fazem parte da melhor história da minha existência”. Era tão difícil admitir que eu iria perder meus amigos, os melhores que eu já tive, a minha essência.
Depois de algumas horas, arrumamos tudo nas caixas e botamos no corredor, meu quarto ficou totalmente vazio e ao vê-lo assim um grande medo me tomou, será que a minha vida também vai ficar assim? Vazia ...
Nós duas deitamos no chão, onde antes havia um grande tapete peludo azul e ficamos olhando para o teto, aproveitando somente a presença uma da outra, a minha irmã que eu adorava tanto, minha cúmplice. Todos os momentos que passávamos juntas costumavam ser alegres, engraçados, era tão fácil rir com ela, só de olhar para sua pessoa magrinha, com os olhos pequenos e cabelos pretos repicados na altura do queixo, que figura a minha amiga é! O Rob sempre foi apaixonado por ela, mas Luh nunca deu bola. Tadinho do meu amigo!
As horas passaram rápido demais e ainda estávamos deitadas ali sem pronunciar uma única palavra, então Art entrou no quarto e olhou para o seu grande e antigo relógio, o que fez meu coração gelar.
-- 18h00 mocinhas, é melhor irem se arrumar, depois não digam que eu estou apressando vocês – ele falava como se nada estivesse acontecendo.
Levantamo-nos devagar e eu fui tomar banho enquanto Luh arrumava a sua mala. Quando voltei para o quarto ela estava sentada no chão e quando percebeu minha presença começou a limpar discretamente as lágrimas que teimavam em molhar sua face. Eu não consegui me mexer ao ver aquela cena. Arthur chegou batendo palmas como se nós duas estivéssemos hipnotizadas e ele nos tirasse do transe.
-- Vamos garotas? – como ele conseguia ficar animado?
A hora tinha chegado e a minha vida estava como um castelinho de areia na beira do mar, prestes a desmoronar e eu teria que construí-lo novamente em outro lugar, e dessa vez não havia nem Luh e nem Rob pra me ajudar.
Quando chegamos na casa da Luh as lágrimas escorriam por minha face como uma enxurrada e eu não me preocupei em estar sendo boba, era a minha amiga que eu ia perder. Fui levá-la a porta e em prantos ela começou a tentar falar:
--Amiga! Eu ainda não to acreditando no que está acontecendo, eu n consigo imaginar nunca mais te ver.
-- Quem disse que nós nunca mais vamos nos ver?
-- Mi você vai para o outro lado do Atlântico!
--Você ainda pode me seqüestrar! – o silencio encheu o ar e meu pai mais uma vez fez questão de estragar tudo , ele tava ficando bom nisso e começou a buzinar como um doido.
-- Vai lá amiga, e prometa que não vai me esquecer Miranda ! Nos abraçamos e eu fiquei com medo de nunca mais poder fazer.
-- Nunca!! – eu não conseguia parar de chorar, meu pai começou a buzinar dinovo e eu comecei a andar em direção ao carro enxugando as lágrimas quando ouvi a Luh dizer :
-- Adeus amiga! – essa frase ficou ecoando na minha mente todo o trajeto até o aeroporto.
-- Não me odeie filha! Por favor! – meu pai é a única família que eu tenho é impossível odiá-lo mesmo que eu queira muito.
Esperamos o avião em um silêncio mortal até que meu celular vibrou no meu bolso de trás e quando olhei o número e o reconheci.
-- Ricardo? – meu pai me olhou com uma cara terrível, ele nunca gostou do Rick e sinceramente eu não sei por que começamos a namorar, eu nunca gostei dele de verdade, acabei confundindo amizade com algo mais.
-- Oi Mi! A Luh me avisou que você está indo pra Inglaterra – nossa como as notícias correm.
-- É sim eu já to no aeroporto com... – antes que eu terminasse a frase Ricardo começou a falar rápido e alto demais .
-- Mi, eu fui um idiota por me afastar de você, eu achei que sofreria menos, mas eu tava errado, me desculpa se eu não segurei a barra com você, se eu fui egoísta e... – foi a minha vez de interrompe-lo
-- Ricardo, você não tem pra que se desculpar eu te entendo e acho que foi melhor assim, eu sei que nunca atendi as suas expectativas, mas saiba que eu te adoro viu! – ninguém respondeu do outro lado da linha.
-- Rick??- nesse momento meu pai levantou-se e se pôs na minha frente apontando para o seu relógio.
-- Rick? Você está ai?- uma voz de choro me respondeu
-- Tô sim!- será que ele estava mesmo chorando ou era impressão minha?
-- Eu tenho que ir o avião já vai sair. Tchau Rick!
-- Adeus Mi! – Mais um “adeus” para minha coleção.
Eu não sei como, mas eu dormi na maior parte da longa viagem, no restante eu tentei ler mas fica difícil se concentrar quando você está indo para um lugar que não te trás boas lembranças. Meus livros costumavam ser um mundo a parte, onde eu sempre me sentia bem, mas estava difícil.Meu futuro era incerto demais para eu ficar calma.