Eu não recordava do quão fria era a Europa, meu pai me avisar, mas eu tinha que dar uma de rebelde não trazer um casaco descente. Chegamos em pleno outono inglês, e pelo que eu ouvi estávamos em Londres, a cidade que tirou minha mãe de mim.
--Chegamos!! – Meu pai falou em alto e bom som, eu acho que as vezes ele pensa que eu sou surda.
Saímos do carro e eu me deparei com vários prédios iguais, colados uns nos outros, tingidos de cinza. Arthur estava radiante e mesmo com toda tristeza que sentia tentei dar um sorriso, sem muito resultado.
-- E ai?- perguntou Art
-- E aí o que?- perguntei de volta, desanimada e cansada.
-- O prédio – disse ele gesticulando para o edifício.
-- A ta! É...legal! – eu realmente n estava nem um pouco animada.
-- Legal? – ele n gostou muito da resposta
-- É pai, muuuito, perfeito! Melhorou?- falei em um tom de ironia.
--Assim está melhor. Vamos subir?
-- Não, eu to adorando virar picolé aqui fora – meu pai é inteligente, mas de vez em quando faz cada pergunta, pensei revirando os olhos.
E quando eu pensei que não podia piorar meu pai se superou. Conseguiu achar um apartamento no quarto andar, sem elevador. Cheguei lá em cima completamente sem ar e ele ainda teve a cara de pau de olhar para mim e dizer que eu estava fora de forma, contei até dez para não dizer umas poucas e boas, mas tenho que admitir que adorei o apartamento, principalmente a minha tão sonhada suíte com uma vista linda. Art já havia mandado alguns móveis e me prometeu uma cama nova logo, e é claro que eu já tinha cobrado, então resolvemos comprá-la depois do almoço.
Quando estávamos descendo as escadas para procurarmos um restaurante eu me deparei com o homem mais perfeito que meus olhos já tinham visto. Ele era mais alto que eu uns 20cm, tinha os olhos de um castanho diferente de todos que eu já vira, seus cabelos cor de mel eram perfeitamente lisos e iam até a altura do pescoço, sua pele era como porcelana, seu rosto tinha ângulos perfeitos, como um anjo! Ele deve ter me encarado por, no máximo, uns 5 segundos e foi o bastante para que eu perdesse o fôlego. Meu coração batia mais forte que a colisão de locomotivas, por um momento eu pensei que ele pudesse escutá-lo, senti o sangue correr pelas veias do meu rosto com mais intensidade e só depois de alguns instantes eu notei que Arthur estava uns 7 degraus a minha frente e me olhava com preocupação.
-Miranda?- demorei um pouco para responder.
-Eu?
- Tudo bem?- não, não estava nada bem.
- É......, sim, tudo bem!- comecei a descer a escadaria devagar.
No caminho até o restaurante meu pai não parou de tagarelar, mas pra falar a verdade não ouvi nenhuma palavra. Eu estava tentando entender o que havia sentido, algo tão forte em tão pouco tempo, meu corpo ainda estava em choque, ele era perfeito demais para ser real, e se fosse o que ele estava fazendo no meu prédio? Que boba! Ele nunca olharia para mim.
Depois que terminamos de almoçar, eu e Art fomos ver minha cama como o combinado, ela era linda, tinha um dossel, a cabeceira se assemelhava aos ramos de uma videira e chegaria daqui a 3dias. Quando chegamos em casa eu fui para o meu quarto descansar e enquanto me acomodava um piano começou a tocar, o que me ajudou bastante a adormecer e eu acabei sonhando com o “meu anjo”, meu coração batia mais forte quando eu pensava nele, mesmo sem conhecê-lo, eu deveria ser só mais uma das muitas garotas que sonham com ele, e se eu não voltasse a vê-lo? - este pensamento fez meu corpo gelar – O que 5 segundos fizeram comigo?
- Mi! Acoorda! Já é de manhã!
- Que horas são pai?
- 8h00.
- Jah??- comecei a levantar devagar
- É! Levante e vá se arrumar para irmos tomar café!- nesta hora a campainha tocou e ele foi atender. Até sem colégio meu pai tinha que me acordar cedo, que saco!
Antes de tomar banho escolhi a roupa mais quente que eu encontrei, e depois de pronta eu fui para sala.
- Pai! Tô pronta, vamos? – ele estava sentado em sua poltrona lendo algo que parecia uma carta, ele tava estranho, seu semblante era de pavor, eu nunca o tinha visto assim, não movia um músculo.
- Pai? – ele não respondeu – Art? Você está bem? – ele despertou.
- Sim querida! – Arthur dobrou a tal carta, pôs no bolso e se levantou devagar como se estivesse tonto.
- Tudo bem?
- Claro filha! Por que não estaria? – a quem ele estava tentando enganar?
- Vamos Mi?- Meu pai foi em direção a porta com a mão no bolso em que a carta estava. Eu o acompanhei. Ele estava desnorteado.
- Pai, quem mandou a carta?
- Que carta?
- A que está no seu bolso – o que estava acontecendo? Ele demorou demais para responder.
- Foi a ... ! Empresa !! Isso mesmo. Foi a empresa.
Art fez o que pode para mudar de assunto, mas as vezes seu olhar se perdia. Tomamos café no mesmo restaurante em que almoçamos no dia anterior, quanto terminamos ele disse que tinha que resolver algumas coisas e que não sabia que horas voltava. Mesmo preocupada eu o obedeci e fui pra casa sozinha. Quando cheguei no apartamento a música do piano havia começado novamente, sempre gostei de música clássica, me acalmava. Então peguei meu livro e quando sentei na poltrona de meu pai, para a leitura, vi um envelope:
- Que estranho, não tem remetente? – falei comigo mesma. A única coisa que tinha era o nome de Arthur Costa – meu pai - escrito com uma letra muito bem feita. A imagem da expressão de tortura de Art ao ler o tal bilhete ou carta atravessou minha mente, este não parecia com os envelopes que meu pai costumava receber da empresa. Havia alguma coisa errada.
Não consegui me concentrar no livro, nem o piano conseguiu me acalmar. Eu precisava saber o que estava se passando, do que se tratava a carta sem remetente? Minhas perguntas só poderiam ser respondidas de uma maneira e eu precisava tentar.
Logo a noite Art chegou e eu fingi que dormia .Esperei meu pai cair no sono e então revirei todos os bolsos do seu casaco marrom e acabei achando o que procurava, neste momento meu coração começou a pular, tive o máximo de cuidado para n fazer nenhum barulho e quando cheguei ao meu quarto tranquei a porta – com muita dificuldade por que minhas mãos não paravam de tremer- e sentei-me para ler o fruto do meu “roubo”- a que ponto eu cheguei- então respirei fundo e abri a carta:
Precisamos conversar Arthur.
Não fuja mais disso, setembro se aproxima e você não poderá evitar o futuro.
Estarei no restaurante da esquina às 9h00.
Aguardo-te ansiosamente!
Claus Volmann .
Quem era Claus e o que ele queria com meu pai? O que eles não podiam adiar? O que setembro tem de tão especial? O que meu pai está escondendo de mim? Perguntas e mais perguntas sem respostas.
Que saudades da Luh! Ela sempre estava comigo nos bons e maus momentos e agora eu estava somente com as minhas dúvidas.
Depois de devolver o bilhete fui para a sala e o piano voltou a tocar, quem tocava tão bem?
Eu adoraria saber quem é, talvez amanhã eu pudesse descobrir, mas... pensando melhor, por que não agora? Eu não tinha nada a perder e não estava nem um pouco a fim de dormir . Peguei um casaco e o som me guiou até a porta do meu vizinho desconhecido. Levantei a mão para bater na porta, mas antes que eu pudesse me mexer o piano se calou e a porta a minha frente se abriu. Eu fiquei extasiada ao ver quem era. O “meu anjo” era meu vizinho?
Ele sorriu ao me ver de boca aberta observando-o de cima a baixo. Como ele conseguia ficar ainda mais perfeito ao sorrir? Mais uma vez eu esqueci de respirar.
- Posso ajudar?- sua voz era linda, doce, calma, eu já deveria esperar. Eu precisava encher meus pulmões para respondê-lo.
- Eu... – o que eu ia falar? – É... Eu só queria saber quem tava tocando
- Incomodei-te? – ele franziu a testa de porcelana.
- Não, não. Eu adoro! ... muito - será que eu tinha respondido rápido demais?
- Que bom! – Meu Deus que olhar mais perfeito, essa é a única palavra que poderia definí-lo PERFEIÇÃO. – Quer entrar?
*-* Essa palavra define a história huhu'
ResponderExcluirQuero ler o resto!