- Entrar? – eu não acreditei que ele estivesse me chamando para conhecer sua casa, nós mal nos conhecemos.
- É! Quer entrar? Eu não mordo – ele sorriu de um modo diferente, com sarcasmo.
- Não! É melhor não, meu pai pode acordar e... – ele não me deixou terminar.
- São 3h00 na madrugada, ele não vai acordar. Vai ser rápido, você não quer me ver tocar? – Eu não tinha como negar nada para aqueles olhos castanhos reluzentes.
- Ta certo, mas eu não posso demorar.
- Como quiser senhorita. – ele abriu a porta gentilmente e eu entrei. O apartamento não tinha muitos móveis, era como se ele também estivesse acabado de se mudar! Mas o piano estava lá, imponente, poderoso. Eu nem reparei quando “meu anjo” se afastou de mim e sentou-se para tocar. Quando percebeu que eu o observava, chegou um pouco mais para o lado do banco e me convidou à sentar. Quando cheguei perto dele meu cérebro começou a enviar choques para todo meu corpo, ele estava tão perto.
Suas mãos deslizavam sobre as teclas do piano, será que eu estava no céu? Em algum lugar bem próximo ao paraíso? Eu ficaria ali por toda a eternidade. De repente a música cessou e seus olhos alcançaram os meus, eu conseguia ouvir sua respiração, de perto ele era ainda mais magnífico.
- Eu não sei seu nome. – ele perguntou
- Miranda, mas todos me chamam de Mi! – sentir o perfume que emanava da sua pele era uma sensação viciante.
- Você é nova aqui. De onde você veio?- Ele perguntou.
- Eu vim do Brasil, mas Nasci aqui! E você? Britânico?- Havia tantas perguntas que eu gostaria de fazer, mas parecia até pecado perder o “nosso” tempo com palavras.
- Sim...britânico! Mas já vivi em muitos outros países – seus olhos se desviaram dos meus.
- Falei algo errado?- perguntei preocupada com sua reação.
- Não, mas é melhor você ir. – ele estava me expulsando? – não é que eu queira que você vá, mas já são 5h00 seu pai pode acordar a qualquer momento.- 5h00? Como o tempo voava perto dele.
- É melhor mesmo, desculpa o incomodo. – ele me olhou como se estivesse arrependido de algo.
- Você não incomoda em nada – eu me levantei devagar e fui em direção a porta que ele abriu antes que eu pudesse tocar na maçaneta.
- Então até logo! – eu disse
- Até breve. – e antes que eu fosse em direção a minha porta ele disse.
- Marco, meu nome é Marco – como eu pude esquecer de perguntar o nome dele?
- Boa noite Marco! – ele sorriu mais um vez e então dei mais alguns passos e entrei em casa sem acreditar no que havia acabado de acontecer comigo, eu cheguei tão perto do “meu anjo”, meu coração continuava batendo mais rápido que o normal. Quando me deitei fiquei relembrando cada segundo que eu tinha acabado de viver até adormecer. Foi tão mágico!
Na manhã seguinte eu estava decidida a questionar meu pai, eu exigiria respostas. Quando cheguei na sala ele estava, mais uma vez, sentado em sua poltrona com um copo de café nas mãos :
-Pai!- eu o chamei com um tom de seriedade.
- Sim querida? – ele mirava a janela.
- Ontem a noite eu li a carta que você recebeu! – em menos de um segundo Art levantou-se e me encarou com um semblante de reprovação.
- Você não podia ter feito isso Miranda, é um assunto pessoal! – ele estava muito nervoso.
- Mas Art... Você ficou tão estranho, eu só estava preocupada!
- Não interessa! Você não tinha o direito de invadir minha privacidade assim! – eu nunca o tinha visto tão fora de si. – ele voltou-se para a janela novamente.
- Arthur Costa o que está acontecendo? Quem é Claus? E o que ele quer com você? – ele me encarou e disse aos berros.
- Não te interessa! – A raiva fez minha garganta se fechar, meu cérebro enviava cargas elétricas por todo meu corpo, que sensação estranha! Art virou-se para mim e me olhou com ... medo???? Era isso? Não...! Por que ele teria medo de mim?
Nesse momento o copo que Art segurava se partiu em mil pedaços, foi como uma pequena explosão. Nós dois nos assustamos, sua expressão era estranha, como se ele estivesse me culpando! Era ele quem estava segurando o copo e não eu. Encaramo-nos por alguns segundos quando eu reparei que sua mão sangrava.
- Pai, a sua mão! – fui em sua direção, mas ele se esquivou.
- Não! ...... eu vou ficar bem! – Art me deu as costas e foi em direção ao seu quarto.
As coisas estavam ficando cada vez mais estranhas, e ao invés de respostas eu só conseguia mais perguntas.
Depois do acontecido eu tive que limpar a bagunça, havia cacos de vidro por toda parte e eu não conseguia formular nenhuma explicação para o que eu tinha visto. Como aquele copo tinha se partido em mil pedaços? Art Não era forte o bastante para quebrá-lo somente com uma mão.
Mas a tarde fui chamá-lo para irmos almoçar:
- Art? – a porta estava trancada.
- O que? – uma voz baixa me respondeu.
- Vamos almoçar!
- Eu não quero! Pegue dinheiro em minha carteira, em cima da mesa, para você comer alguma coisa. - Meu pai não era assim, mau humorado, distante, sério e triste! Pelo contrário ele sempre fazia brincadeirinhas, mesmo que fossem de mal gosto, mas Art sempre tinha um sorriso no rosto, o sorriso que fazia com que eu me sentisse segura.
- Maldita carta! – Eu sussurrei enquanto pegava o dinheiro e então o piano voltou a tocar, era como se ele adivinhasse quando eu precisava me acalmar. Então me veio uma idéia que talvez salvasse minha tarde.
Levantei para tocar a campainha, quando mais uma vez, ele adivinhou meus pensamentos a abriu a porta antes que eu pudesse avisar que eu estava lá.
- Como é que você... Deixa pra lá! – Como ele era lindo!
- Oi... Miranda! – a sua voz era ainda mais encantadora do que eu me lembrava.
- É... Oi! – ele tem o dom de me deixar boba.
- A que devo a honra?
- Eu só queria saber se você já almoçou? – ele não tirava aquele sorriso perfeito do rosto.
- Já sim! – É... meu dia estava totalmente acabado. – Por que?
- É que eu ia te chamar pra almoçar comigo no restaurante aqui do lado mas...- Ele adorava me interromper! Mas eu adorava!
- Tudo bem! Vamos! Deixa eu só pegar meu casaco.- ele pegou um casaco preto que estava em cima do piano.
- Mas você não tinha almoçado?
- Sim, mas... eu posso te acompanhar ? – eu fiquei sem graça e podia sentir o sangue indo direto para o meu rosto.
-Claro!
- Então... Vamos? – descemos as escadas devagar e toda vez que ele me olhava eu ficava sem jeito, quando chegamos ao restaurante eu pedi um macarrão com molho branco que tinha um nome meio esquisito e que eu não conseguia pronunciar, mas Marco me ajudou.
- Então Miranda!... O que te trás a Inglaterra?
- O trabalho do mau pai !
- Ele trabalha em quê?- a curiosidade saltava de seus olhos perfeitos.
- Vice presidente de uma empresa de eletrônica.
- Ahh... – eu estava me acabando no espaguete e ele não parava de olhar para mim.- você gosta de espaguete ein!
- Está ótimo!É uma pena que você já tenha almoçado!- que vergonhaaa.
Depois que terminei de almoçar ficamos conversando um bom tempo, eu não cansava de escutar sua voz.
- Você mora sozinho a quanto tempo?- seu sorriso se desfez de súbito.
- Desde que meus pais morreram. – como eu sou idiota! Consigo estragar tudo sempre?
- Foi mal! Eu não sabia... desculpa! – marco forçou um sorriso.
- Tudo bem! Você não podia imaginar.
- Eu sempre estrago tudo. – sussurrei para mim mesma, enquanto encarava o chão.
- Não!
- O que?- era impossível que ele tivesse escutado meu sussurro. !
- Você não estragou nada. – Ele levantou meu rosto delicadamente, segurando meu queixo – Você faz eu me sentir melhor do que eu realmente sou. – seu toque fez meu corpo estremecer, minha respiração, meu coração, tudo estava fora de controle. Seus olhos me hipnotizaram e eu ficaria ali, parada, para todo o sempre, se ele estivesse comigo. Será que isso é o que chamam de amor?
- Vocês vão pedir a conta? – o garçom conseguiu acabar com o melhor momento da minha vida!
- Sim, por favor. – Marco respondeu.
- Agente já vai? – perguntei.
- Você quer pedir mais alguma coisa?
- Não, tudo bem. – É claro que eu queria, queria o seu toque, seu olhar, seu sorriso.
- Aqui está senhor! – o garçom “ estraga prazeres” chegou com a conta e entregou a Marco.
- Ei! A conta é pra mim, eu que vou pagar. – falei estendendo minha mão para pegar o papel. Mas Marco como sempre, me surpreendeu.
- Não, por favor Miranda, um cavalheiro deve pagar a conta.- eu sei que ele é perfeito e talz, mas ele não tinha pedido nada, e fui eu quem o convidei.
- Mas Marco, eu te convidei e você nem pediu nada. – o garçom estava meio confuso e quando pensei ter ganho a pequena discussão tentei pegar o pequeno papel que estava em sua mão Marco, em um piscar de olhos. Pegou a conta, tirou um cartão prateado do bolso do casaco e entregou ao garçom que ficou assustado com a rapidez do meu “cavalheiro”.
- Aqui está!- meu braço ainda estava estendido no ar e meu queixo estava caído.
- Você é tão surpreendente que me irrita!
- Desculpe! Não foi minha intenção Mi. – Eu não sabia que algum dia a educação de alguém pudesse me irritasse.
- Da próxima vez eu pago! Entendeu?
- Sim senhorita. - ele disse com um sorriso largo no rosto.
Saímos do restaurante e fomos pra casa, ao chegar na porta do meu apt ele segurou minha mão esquerda, levantou-a e deu um beijo demorado.
- Já estou sentindo sua falta pequena Miranda. – Marco conseguia me transportar para um mundo melhor que qualquer livro ou realidade.
- Eu também já sinto sua falta.- neste instante a porta atrás de mim abriu e Art saiu dela gritando.
-Miranda Costa, Onde você estava mocinha? Que demora foi esta?
- A culpa foi minha senhor. – Disse Marco
- Não foi não!! – eu disse protestante.- O Marco n tem nada a ver com minha demora pai...- antes que eu terminasse Arthur me pegou pelo braço e me puxou em direção a porta.
- Com licença rapaz – Pelo menos meu pai n havia se tornado um mal educado.
- Pai você está me machucando, já estamos em casa! Dá pra me soltar?
- Nunca mais me dê um susto desses! Ouviu ?? – Art esbravejou, me encarando com muita raiva e foi se trancar em seu quarto mais uma vez. Os dias dele se resumiam ao quarto e a sua poltrona.
Fui para meu quarto aos prantos. Enquanto adormecia com as lágrimas ainda embaçando meus olhos algumas imagens estranhas começaram a tomar minha mente, imagens nítidas demais para serem um simples sonho, eram como lembranças de momentos que eu nunca tivera vivido A primeira cena era a de um homem, que pelas roupas aparentava ser rico, com cabelos negros que contrastavam com seu rosto de porcelana perfeito, ao seu lado havia uma mulher de vestes mais simples, cujos cabelos castanhos terminavam em cachos na altura da cintura, não consegui ver o rosto da moça, o que mais me chamou atenção foi o amor que emanava de ambos, estavam tão felizes, realizados pela simples presença do outro. A segunda cena era o oposto, a mulher estava correndo desesperadamente com uma criança no colo e de repente entrava em uma casa sombria, colocava o bebê dentro de algo que parecia ser um baú então a imagem ficou turva e eu só consegui ouvir os gritos da mulher, eram aterrorizantes e fizeram eu despertar, quando abri meus olhos notei que estava soando, sem ar, e chorava aos soluços sem parar. De repente Arthur Apareceu na porta do quanto .
-Miranda?- art estava com um semblante de terror - O que houve??
- Foi só...- Eu estava sem fôlego- ...um sonho.
- Sonho? Você estava gritando!
-Eu?? Você ta brincando!
- Não! – Realmente, Art estava sério demais para brincadeiras.
- Tudo bem, eu estou bem. – o quarto estava escuro, não dava para ele enxergar muito bem meu rosto de medo, eu agradeci por isso.
- Estou na sala. – Arthur disse
- Art!! – ele se virou rapidamente
- Que foi?- ele ainda estava aterrorizado.
- Calma pai, eu só quero saber que horas são.
- Ahh.. São 16h00! Mais alguma coisa?
- Não obrigada!
Me levantei e fui para o meu banheiro ver o meu estado. Quando olhei para o espelho eu fiquei em choque, em meus olhos o castanho claro deu lugar a um castanho avermelhado escuro, eu não conseguia me mover, a única reação que tive foi a de fechar os olhos, com força, por uns instantes na esperança de ser mais um pesadelo, mas infelizmente não era!
Ainn! Que perfeito!
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