Eu sou uma pessoa comum, com uma vida comum, amigos comuns, namorado comum. Pra falar a verdade eu nunca gostei de ser normal, os desafios, o inusitado, as diferenças sempre me fascinaram, mas a Miranda “ pés no chão “ nunca deixou que eu desbravasse o mundo mais irreal, as ilusões. È somente nos livros que eu me sinto completa, no lugar certo. Eu sei que sonhos não são reais, mas fingir que são é algo bom demais para abrir mão. Eu nasci em 15 de setembro de 1992 em Londres, meu pai trabalha como vice diretor de uma empresa de eletrônicos e sempre temos que nos mudar, o bom é que graças a essas mudanças eu aprendi a falar inglês, espanhol e português muito bem, o ruim é que tenho que reconstruir minha vida sempre, minha mãe morreu quando eu tinha 3 anos, não tenho irmãos nem parentes, as vezes eu acho que meu pai não pára em um lugar por muito tempo pra não se apegar as pessoas e correr o risco de perde-las como perdeu a minha mãe, ele nunca mais foi o mesmo depois disso, mesmo tentando esconder eu sei que ele sente muita falta dela, tanto quanto eu e sempre evita tocar no assunto, eu o entendo. Ontem ele, mais uma vez, veio com uma conversa sobre mudança, mas dessa vez não era um lugar novo :
- Mi! Você já pensou em voltar para Europa?– seus olhos estavam com um misto de curiosidade e preocupação.
- Por que a pergunta Art?
- Nós já estamos aqui á algum tempo e meu chefe vive perguntando se eu gostaria de ir para Inglaterra.
- Inglaterra??? Você sempre evitou falar do tempo em que morávamos lá e agora quer se mudar? – minha voz começou a se exaltar.- Por que você não falou comigo antes Arthur?
- Calma! Eu ainda não decidi nada filha!
Ele sempre vem com esse papo de “ eu ainda n decidi” e na semana seguinte o caminhão da mudança já está na porta.
Será que ele não pensa em tudo o que eu vou perder? Estamos no meio do ano letivo e os meus amigos? A Luh e o Rob precisavam de mim. E também tem o Ricardo, agente só namora a duas semanas. Arthur é tão egoísta!
Como sempre meu pai tomou a decisão sozinho e daqui a 3 dias nós vamos nos mudar.
As despedidas já começaram, Luh e Rob passam todos os instantes comigo, o Rick preferiu se afastar, talvez seja melhor assim, meu pai mais uma vez estragou minha vida.
Hoje Luh vem dormir aqui e daqui a pouco ela chega, eu sempre gostei de como ela faz eu me sentir especial, singular, em pouco tempo nós nos tornamos uma mistura de amiga e irmã e agora eu vou ter que deixá-la .
Meus pensamentos foram interrompidos por 3 batidas na porta, fui atender e me deparei com a Luh carregando uma mochila enorme, com um colchão enrolado em baixo do braço esquerdo e segurando uma pizza com a outra mão.
-- Luh ! Você vai se mudar com agente é ??
-- Engraçadinha!- Ela fez uma cara de desprezo pra mim e entrou porta a dentro.
- Onde eu boto minha bolsa ?
-- Sua mala né amiga, dá você dentro dela.- ela me lançou o mesmo olhar de desprezo.
- Tudo bem ! Vamos subir , quer ajuda ?
-- Pensei que não fosse perguntar nunca!
Subimos a escada rindo. Quando chegamos no meu futuro ex quarto ela ficou parada olhando as caixas com as minhas coisas e o mural de fotos que eu ainda não tive coragem de tirar:
--Eu odeio seu pai!!-Eu sabia que se continuasse essa conversa a noite estaria acabada.
-- Você ainda pode me seqüestrar!!
-- Não tem graça Miranda!- os olhos dela não segurariam as lágrimas por muito tempo.
-- A pizza é do que mesmo?
-- Calabresa eu acho!
-- Acha?- Luh estava viajando e o meu coração estava ficando cada vez mais apertado ao vê-la assim.
Mesmo que nós não quiséssemos a noite não seria tão animada como já fora, foi impossível não chorar, nem a pizza estava tão boa como das outras vezes. Por que meu pai fazia isso comigo??
Eu acordei com a voz de Art:
-- Mi! Acorda filha!
-- Ah pai! Deixa eu dormir mais um pouquinho!
-- Tenho uma notícia não muito boa pra você. –eu me levantei em um salto.
-- Mais uma?- questionei sem acreditar.Meu pai suspirou e disse calmamente.
-- A viagem foi antecipada!- O ar parecia estar mais denso, minha respiração começou a se alterar e meus olhos começaram a produzir lágrimas.
-- Pra quando?- eu sentei devagar na cama, o quarto começou a rodar.
-- Agente viaja hoje a noite. - Essas palavras foram como um punhal atravessando meu coração e as lágrimas e soluços não deixavam eu respirar.
- Você está bem?
--BEM???-minha voz começou a se exaltar, o que fez Luh acordar - Você acha mesmo que eu poderia estar bem depois de você ter destruído a minha vida? – Luh me olhava com preocupação, sem entender nada.
-- Mi ! Desculpe se você acha que eu estou destruindo sua vida, mas é para o seu bem!
-- Para o meu bem? Você é tão egoísta – neste momento ele me deu as costas e foi em direção a porta, antes de fechá-la virou-se e disse:
-- Arrume sua coisas, saímos as 19:00
Eu não acreditava que isso estivesse acontecendo!
--O que aconteceu amiga?
-- Meu pai... – estas foram as únicas duas palavras que eu consegui pronunciar antes de desabar no choro abraçada com a Luh.
-- Amiga! Por favor me explica o que está havendo, você sabe que pode contar comigo pra tudo - a preocupação dela só fazia eu chorar mais, eu tinha que falar.
--Luh! Meu pai antecipou a viagem.
--Para quando?- ela disse com os olhos arregalados.
-- Hoje às 19:00 - Nós duas nos encaramos e começamos a chorar desesperadamente.Depois de alguns minutos ela tomou ar e começou a falar.
--Mi! Por favor pare de chorar, por que senão eu também não vou conseguir parar, se você quiser eu te ajudo a arrumar o resto das coisas - eu comecei a respirar pausadamente e as lagrimas foram cedendo aos poucos.
-- Tudo bem! Mais é melhor agente descer e comer alguma coisa!
Nós até tentamos mas n conseguimos comer nada e resolvemos subir, quando chegamos na porta do quarto ficamos paradas sem coragem de falar, mas alguém tinha que tomar atitude.
-- Luh ! Você sabe que eu nunca vou te esquecer amiga e que nossa amizade é maior que qualquer distância, você tem que me prometer que não vai me esquecer e que vai tomar conta do Rob, você é a pessoa em que eu mais confio no mundo e... – ela não deixou eu continuar:
-- Por Favor Miranda não fale nada, você sabe que eu odeio chorar e ainda temos tempo – ela era como eu, demonstrar sentimentos era muito complicado.
--Tudo bem, então... mãos a obra!
Começamos a nos mexer lentamente, eu comecei pelos meus tão amados livros de realidade fantástica, sempre adorei histórias de vampiros, lobisomens, bruxas e outras ilusões que eu adoraria viver, Luh começou pelo mural de fotos que nós montamos, na verdade era só um parte da minha parede que nós duas enfeitamos, em cima tinha a nossa frase preferida “Vcs fazem parte da melhor história da minha existência”. Era tão difícil admitir que eu iria perder meus amigos, os melhores que eu já tive, a minha essência.
Depois de algumas horas, arrumamos tudo nas caixas e botamos no corredor, meu quarto ficou totalmente vazio e ao vê-lo assim um grande medo me tomou, será que a minha vida também vai ficar assim? Vazia ...
Nós duas deitamos no chão, onde antes havia um grande tapete peludo azul e ficamos olhando para o teto, aproveitando somente a presença uma da outra, a minha irmã que eu adorava tanto, minha cúmplice. Todos os momentos que passávamos juntas costumavam ser alegres, engraçados, era tão fácil rir com ela, só de olhar para sua pessoa magrinha, com os olhos pequenos e cabelos pretos repicados na altura do queixo, que figura a minha amiga é! O Rob sempre foi apaixonado por ela, mas Luh nunca deu bola. Tadinho do meu amigo!
As horas passaram rápido demais e ainda estávamos deitadas ali sem pronunciar uma única palavra, então Art entrou no quarto e olhou para o seu grande e antigo relógio, o que fez meu coração gelar.
-- 18h00 mocinhas, é melhor irem se arrumar, depois não digam que eu estou apressando vocês – ele falava como se nada estivesse acontecendo.
Levantamo-nos devagar e eu fui tomar banho enquanto Luh arrumava a sua mala. Quando voltei para o quarto ela estava sentada no chão e quando percebeu minha presença começou a limpar discretamente as lágrimas que teimavam em molhar sua face. Eu não consegui me mexer ao ver aquela cena. Arthur chegou batendo palmas como se nós duas estivéssemos hipnotizadas e ele nos tirasse do transe.
-- Vamos garotas? – como ele conseguia ficar animado?
A hora tinha chegado e a minha vida estava como um castelinho de areia na beira do mar, prestes a desmoronar e eu teria que construí-lo novamente em outro lugar, e dessa vez não havia nem Luh e nem Rob pra me ajudar.
Quando chegamos na casa da Luh as lágrimas escorriam por minha face como uma enxurrada e eu não me preocupei em estar sendo boba, era a minha amiga que eu ia perder. Fui levá-la a porta e em prantos ela começou a tentar falar:
--Amiga! Eu ainda não to acreditando no que está acontecendo, eu n consigo imaginar nunca mais te ver.
-- Quem disse que nós nunca mais vamos nos ver?
-- Mi você vai para o outro lado do Atlântico!
--Você ainda pode me seqüestrar! – o silencio encheu o ar e meu pai mais uma vez fez questão de estragar tudo , ele tava ficando bom nisso e começou a buzinar como um doido.
-- Vai lá amiga, e prometa que não vai me esquecer Miranda ! Nos abraçamos e eu fiquei com medo de nunca mais poder fazer.
-- Nunca!! – eu não conseguia parar de chorar, meu pai começou a buzinar dinovo e eu comecei a andar em direção ao carro enxugando as lágrimas quando ouvi a Luh dizer :
-- Adeus amiga! – essa frase ficou ecoando na minha mente todo o trajeto até o aeroporto.
-- Não me odeie filha! Por favor! – meu pai é a única família que eu tenho é impossível odiá-lo mesmo que eu queira muito.
Esperamos o avião em um silêncio mortal até que meu celular vibrou no meu bolso de trás e quando olhei o número e o reconheci.
-- Ricardo? – meu pai me olhou com uma cara terrível, ele nunca gostou do Rick e sinceramente eu não sei por que começamos a namorar, eu nunca gostei dele de verdade, acabei confundindo amizade com algo mais.
-- Oi Mi! A Luh me avisou que você está indo pra Inglaterra – nossa como as notícias correm.
-- É sim eu já to no aeroporto com... – antes que eu terminasse a frase Ricardo começou a falar rápido e alto demais .
-- Mi, eu fui um idiota por me afastar de você, eu achei que sofreria menos, mas eu tava errado, me desculpa se eu não segurei a barra com você, se eu fui egoísta e... – foi a minha vez de interrompe-lo
-- Ricardo, você não tem pra que se desculpar eu te entendo e acho que foi melhor assim, eu sei que nunca atendi as suas expectativas, mas saiba que eu te adoro viu! – ninguém respondeu do outro lado da linha.
-- Rick??- nesse momento meu pai levantou-se e se pôs na minha frente apontando para o seu relógio.
-- Rick? Você está ai?- uma voz de choro me respondeu
-- Tô sim!- será que ele estava mesmo chorando ou era impressão minha?
-- Eu tenho que ir o avião já vai sair. Tchau Rick!
-- Adeus Mi! – Mais um “adeus” para minha coleção.
Eu não sei como, mas eu dormi na maior parte da longa viagem, no restante eu tentei ler mas fica difícil se concentrar quando você está indo para um lugar que não te trás boas lembranças. Meus livros costumavam ser um mundo a parte, onde eu sempre me sentia bem, mas estava difícil.Meu futuro era incerto demais para eu ficar calma.
NOSSA É DEMAIS QUERO LOGO LER O PROXIMO CAPITULO.
ResponderExcluirBJCS
kd o prox cap...hehehe...fãs ansiosos
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